Entrevista de S.A.R. o Duque de Bragança ao jornal ''O Diabo''

 
 
 
"O Diabo"
(Janeiro 2005)
 
 
 
O DIABO - Permanece preocupado com o presente e o futuro de Portugal?

DOM DUARTE - A minha preocupação é sobretudo a médio e longo prazo, porque no
curto prazo as coisas vão-se resolvendo e remediando. Há muito tempo que não
definimos claramente quais são os objectivos nacionais e temos vindo a ser
governados por soluções de curto prazo. É da observação que faço dessa
realidade que digo: estou muito preocupado quanto ao futuro de Portugal.

Quer dar exemplos de soluções governativas no imediato?

Quando, por exemplo, o Estado gasta grande parte dos nossos recursos em obras
de luxo de país rico  e enquanto continuarmos a ter um nível de desenvolvimento
humano que é próximo de alguns países da América do Sul, há qualquer coisa que
está errada. Não podemos gastar como se fossemos um país do Primeiro Mundo e
ter uma Formação, uma Educação e um estilo de vida próximo do Terceiro Mundo.
Ou seja, gastamos como ricos e trabalhamos como os países pobres, de uma
maneira desorganizada e com falta de planificação.
 

Quais são os empreendimentos em que foram investidos dinheiros públicos que lhe
merecem maiores críticas?

A Expo 98, o Centro Cultural de Belém, a Ponte Vasco da Gama, o número
exagerado de estádios de futebol do Euro 2004, isto já para não falar do
excesso de auto-estradas para um País tão pobre como o nosso. Estas obras até
podem ser boas em si, e úteis, mas não podia ser consideradas investimentos
prioritários!

Se são rentáveis, que sejam assumidos pela iniciativa privada.
Sou a favor das boas estradas que sirvam todas as regiões do país e creio que
o modelo das IP''''s (Itinerários Principais) é excelente para Portugal. Não vale
a pena exagerar e despender dez vezes mais a fazer auto-estradas em vez de
IP''''s. O mesmo se aplica ao modelo de transporte ferroviário, que é muito mais
adaptado a um país com fracos recursos energéticos -  como é o nosso - do que o
modelo de transporte rodoviário com camiões e automóveis, que tem sido
encorajado..

Na altura propus que a Ponte Vasco da Gama ficasse em Alverca, onde seria
muito mais curta e faria com mais eficácia a ligação do Norte ao Sul do país.

O novo aeroporto intercontinental deveria ser uma adaptação do que existe no
Porto, pois a maior parte dos viajantes para as Américas são originários do
Norte e da Galiza.

E o TGV só se justifica se for de Lisboa para Madrid, as outras ligações
durariam tempo demais para serem concorrenciais com o avião.

O tal aeroporto da Ota só teria utilidade para os negócios imobiliários.

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