Que energias para o nosso futuro? - Artigo de S.A.R. o Duque de Bragança na revista ''MGI" Há a impressão generalizada que o problema dos recursos energéticos é tratado de modo pouco coerente com o interesse nacional.
Desistimos de acabar a barragem de Foz Côa, com a louvável preocupação de salvar as gravuras? Ou terá sido por motivos político – eleitorais? Poderiam deslocar as principais gravuras e cobrir as outras com uma camada protectora. Quando no futuro essa fonte de energia for dispensável, a barragem poderia ser esvaziada e as gravuras expostas , se tal for o desejo dos portugueses dessa época...
Quanto à “opção nuclear”, deveria ser abordada não de modo emocional, mas após um amplo debate científico, considerando a experiência dos países mais avançados e as inovações tecnológicas que tornaram as centrais mais seguras, apesar de não terem resolvido todos os problemas. Por essa opção de lado por ser incómoda, não é inteligente. O gás natural nos automóveis é menos poluente e mais vantajoso? Pois não somos encorajados nesse sentido, as bombas são difíceis de encontrar e os estacionamentos discriminam os seus utilizadores, por motivos discutíveis...
Nas regiões rurais seria fácil e barato produzir o gás metano através da fermentação de resíduos agrícolas e florestais, tanto de modo artesanal como industrial, mas não tem havido encorajamentos nesse sentido, pelo contrário. Em todo o caso para os automóveis a melhor solução parece ser a dos motores eléctricos , mas não recebem qualquer apoio fiscal que os torne mais baratos. Quanto à electricidade eólica a situação é pouca clara. Ela é paga em Portugal de uma forma exageradamente favorável às empresas e fica muito cara. Até pode ser uma boa solução , se cuidarmos da defesa de algumas das nossas paisagens. A produção da matéria-prima para os " bio combustíveis " vai competir com a produção de alimentos, levando à escassez destes e ao aumento da fome no Mundo, e o seu uso produz a mesma quantidade de CO2 que a gasolina. A médio prazo a solução preferível seria melhorar a eficiência energética. Nos transportes os mais eficientes são claramente os navios e os comboios. Mas por cá encorajamos o transporte rodoviário e individual, dando sempre prioridade às auto-estradas antes de melhorar os transportes ferroviários. Segundo o Professor Delgado Domingos, do Partido da Terra, vivemos acima das nossas possibilidades. Gastamos, por habitante, apenas menos 10 % de energia que no Reino da Dinamarca, mas consumimos cerca do dobro da energia para produzir a mesma unidade de riqueza. Graças à U.E. vemos alguns encorajamentos para que a indústria economize, mas a construção civil moderna pouco se preocupa com isso e depende cada vez mais do ar condicionado altamente consumidor de energia. Temos que nos preparar para as alterações climáticas que virão em breve. Precisamos de uma “revolução cultural” para que o bem comum, a “respública”, possa passar à frente dos interesses privados. Mas essa mudança de atitudes terá que partir dos portugueses mais lúcidos e interessados no nosso futuro colectivo!
Dom Duarte de Bragança |
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