Entrevista de S.A.R. o Duque de Bragança ao ''Correio da Manhã'' Entrevista ao jornal Correio da Manhã , 5 de Outubro 2004
(foi publicada com vários cortes) R- Os monárquicos portugueses estão unidos sobre quem é o chefe da Casa Real desde que os representantes de S. M. o Rei Dom Manuel II e os do meu Pai, Dom Duarte Nuno, firmaram o Pacto de Dover , no qual o meu Pai reconhece Dom Manuel como Rei e Dom Manuel declara que se não tiver filhos, será o meu Pai o seu sucessor. Podem estar divididos quanto a opções partidárias , etc. Quanto ao decreto que baniu (exilou ) o Rei Dom Miguel e seus descendentes de Portugal, foi considerado ilegal e foi revogado pelo Parlamento português nos anos 40. E o meu Pai , Avô e Bisavô nunca aceitaram outra nacionalidade que não fosse a portuguesa ,embora vivessem no exílio.
P- Quantos monárquicos haverá em Portugal?
R- Segundo estudos, mais de 20 % dos portugueses preferem ter um Rei do que um Presidente, e por isso podem ser considerados monárquicos mais de dois milhões . Embora a maioria não seja militante... As Reais Associações, reunidas na Causa Real, contam com cerca de dez mil associados, mas se comparar o número de filiados num partido com os que nele votam, a diferença é ainda maior.
P- A Monarquia será compatível com uma Democracia moderna?
R- Alguém poderá dizer que os Reinos Escandinavos , ou a Holanda, Espanha etc, serão menos democráticos e modernos que a nossa República ? Ao contrário , a democracia portuguesa é ainda imatura ,pouco participada e mal compreendida pela maioria... O facto de não se autorizar, pelo artigo 288-B da Constituição, que o “Povo Soberano” possa referendar o tipo de chefia de estado que gostaria de ter é disso uma prova ! O medo que há de perguntar aos portugueses se querem trocar a sua nacionalidade pela “nacionalidade” europeia ,e o medo de realizar referendos regionais ou nacionais demonstra essa falta de democraticidade do nosso regime.
P- Qual a vantagem de ter um Rei?R- Todos os regimes republicanos vivem um dilema: o Chefe de Estado deve ser um símbolo da Nação, independente dos interesses económicos e partidários , um elemento de unidade respeitado por todos. Ora um candidato à presidência. da república é combatido e contestado pelos seus concorrentes, e se não tiver forte apoio partidário e monetário ,não terá qualquer possibilidade de lá chegar, por melhor que seja... Depois de ganhar terá que esquecer todo este passado recente, mas será possível recuperar uma imagem de independência ? E já agora, porque será que um presidente não pode ser reeleito quantas vezes o povo quiser ,se tal sucede com a presidência das câmaras ? Estou convencido que em Portugal o Presidente da República seria reeleito enquanto tivesse saúde ,pois nós gostamos de uma estabilidade quase monárquica na Chefia do Estado... |
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