“O Dia de Portugal devia ser celebrado a 1 de Dezembro” (in Expresso 03-Dez-2011) Duarte Nuno, duque de Bragança, é o rosto e a voz dos monárquicos portugueses. Aceitou dar uma entrevista quando o risco de acabar o feriado da Restauração se tornou
bem real. Era o palco principal das celebrações dos adeptos da monarquia que,
assume, já “são 30%, da população”. Dom Duarte discorda. Para ele o perigo continua a vir de Espanha.
Choca-o o fim deste feriado? Acho que se podia juntar o feriado de 10 de junho com o 1 de dezembro, porque o dia de Portugal foi escolhido um pouco arbitrariamente. Foi o Camões, como poderia ser outra personagem histórica. Podia ser o Nuno Álvares… Celebrando o Dia de Portugal a 1 de dezembro — um feriado criado na 1ª República — celebrava-se a independência. Porque a mensagem que se passa ao não se celebrar a independência é a de que o assunto não tem importância Se quiserem entregar-nos a Espanha, porque não? Há risco dessa interpretação? Claro que sim. Faz parte de uma campanha que dura há muito de que Portugal não tem viabilidade e que mais vale sermos espanhóis. Sabe a origem da campanha? Há interesses económicos de empresários que veem vantagens nessa associação. Há interesses ideológicos, que vêm desde os revolucionários de 1910. Há uma corrente iberista que vai passando a sua mensagem. As pessoas tentadas por estas ideias deveriam visitar a Catalunha, o País Basco, a Galiza e ver como é bom ser dominado pelos castelhanos! Uma coisa é a nossa colaboração – e eu gosto imenso de Espanha e da família real – mas temos de tratar os espanhóis em pé de igualdade. Quando eles começam a mandar noutros povos são sempre problemáticos. Os perigos não vêm antes de França e da Alemanha? Não acho. As empresas alemãs em Portugal são excelentes exemplos. Os empresários espanhóis são completamente diferentes. O problema não é esse. Nós achámos que éramos ricos como os alemães, começámos a gastar como eles e até mais. Agora, temos de pagar. A culpa não é de modo nenhum da senhora Merkel. A culpa é nossa. Não vê na crise europeia o risco de invasão da soberania? Só quando pagarmos o que devemos recuperaremos esse tipo de soberania. Os países mais bem governados acham que somos um bocado irresponsáveis, que não nos sabemos governar. Concorda? Fomos muito irresponsáveis, de facto. Tentei sempre contrariar os excessos de autoestradas, a Expo, o CCB, uma grande quantidade de coisas que se estava mesmo a ver não iam produzir riqueza. Toda a gente achava que não tinha razão. Contrariei quanto pude a entrada no euro, porque não tínhamos competitividade para isso. A verdade é que os países que não estão no euro, no geral, estão melhor. O fim do 1º de dezembro tira-lhe espaço de intervenção? Não quero ser como os profetas que acabaram apedrejados por estarem sempre a dizer coisas muito chatas… Há uma parte da população que me ouve. Ouvem-me os adeptos da monarquia e esses serão cerca de 30%, dizem as sondagens. Esse alertar para os problemas nacionais e propor soluções positivas sempre poderei fazer. Há monárquicos no Governo? Ouviram-no sobre isto? Há vários, até inscritos em organizações. Mas não fui ouvido sobre este tema, embora já tenha contactado com membros do Governo e tenha tido conversas muito interessantes com o primeiro-ministro. A supressão de feriados é necessária? Não sei. Acho que podia ser uma medida provisória, até a situação económica estabilizar. O que acho muito mau para a produtividade são as pontes. Foi um hábito que se criou que é francamente desaconselhável. Vê uma saída para esta crise? Depende. Como não temos moeda para desvalorizar só pode ser com medidas duras. Mas é preciso que sejam justas e que não haja grupos que fiquem de fora dos sacrifícios. A população percebe a necessidade destas medidas? Há aquele ditado popular de “o que tem de ser tem muita força”. Mas é preciso explicar. E há que dar exemplos. É importante consumir produtos nacionais. Digo isto há anos. Os particulares ainda ligam alguma coisa. O Estado não liga nenhuma: veja os carros que compram! Importam materiais e mão de obra para as grandes obras públicas! Texto – Rosa Pedroso Silva Fotos – Luís Faustino |
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